Só tinha que causar espantos e discórdias entre irmãos e filhos com suas atitudes! Numa época de tantos pudores...
-Mas o que fez de tanto absurdo e imoral para não ter perdão?
Os irmãos se afastaram e os filhos ficaram envergonhados e magoados. Netos nem pensar! Não podiam chegar perto porque os pais não consentiam! Eles eram afastados! Até parecia ter doença contagiosa!
Aquela senhora portuguesa, veio para o Brasil com a ilusão que o primeiro marido lhe passou: aqui seria o lugar certo para fazer fortuna e dar um futuro bem melhor para seus quatro filhos.
Não teve sorte seu querido, faleceu aqui nesta terra de labutas e competições.
Ela, não pensou em mais nada, saudosa de sua “santa terrinha” ou talvez do antigo namorado,... irmão do seu querido marido, que havia retornado da guerra.
E... lá se foi para talvez amenizar a sua viuvez tão triste! Deixou aqui as filhas mais velhas. E o que fez? Casou-se lá mesmo com o irmão do falecido !...
Voltou para o Brasil, com este pobre, que já estava com problemas de saúde, mas, ficou tão pouco tempo casada, e que não faleceu sem lhe fazer mais um filho, e lhe deixar uns bons trocados.
Diga-se bem, a senhora era mesmo muito batalhadora, a outra viuvez não se deixou abater, dinâmica , enérgica, comandava um Bar Restaurante que ficou famoso pelos peixes fritos, bolinhos de bacalhau, croquetes e aqueles vinhos especiais, engarrafados em grandes tonéis na adega nos fundos do casarão que abrigava tudo, os negócios e a família.
Muito autoritária, fazia de seus filhos mais velhos quase escravos a suas ordens.
O tempo corria, a cidade crescia com o cultivo do café, era um vai e vem de pessoas que traziam dinheiro aos cassinos nas redondezas de seu restaurante. Como era movimentado! Vários empregados: cozinheiros, gerente, contador, garçons e a senhora cuidava de tudo muito bem, e a familia prosperava junto.
Sábiamente, trabalhava muito, mas sabia descansar também. Já estava rica e podia viajar para conhecer as cidades termais que tanto se falavam, as cidades de belas praias desse país que lhe encantava.
Seus filhos já estavam casados, o casarão era cheio de vida com a familia que se multiplicava e se ocupava de suas crias, e assim lá estava ela, livre!
A filha mais velha se casara com um rapaz muito charmoso, tão comunicativo, e ao contrario do que sempre acontece, combinava bem com a sogra, e lhes deram uma netinha linda, o xodó da vovó.
A esta altura a senhora inquieta, mesmo já madura, , sempre sensual cativou muito um caixeiro viajante frequentador do restaurante. A paixão foi avassaladora. Casaram-se depressinha. Para a senhora, era o terceiro casamento e em seguida, mais outro filho.
A época era de doenças contagiosas e elas, a causa de muitas mortes neste nosso Brasil.
Assim, aconteceu uma tragédia: sua querida e primogênita filha faleceu!
Tuberculose foi a causa. Mas que tristeza...
O terceiro marido também se foi. Faleceu com a febre amarela...
E a netinha linda? Ficou sem a mamãe – quem olharia por ela?
A menina se apegou muito à vovó; e era uma bajulação só, que os outros netos e filhos invejavam e se ressentiam. . Comprou piano , pagou aulas de balé, música, viagens e passeios até pelo além-mar e a santa terrinha novamente. Para os outros netos nada! Só lembrancinhas!
A senhora solitária precisava mostrar ao viúvo que ela era a pessoa certa para ficar com a menina...e com o viúvo - esse, já estava na maior boêmia. E a senhora? Estava em ponto de bala!
Inventou um passeio com a família, isto é, com o viúvo, a neta e os filhos adolescentes. Onde seria o passeio?
-Fonte dos Amores, bem sugestivo para um programa familiar.
O que aconteceu lá foi um desastre para a familia:
-Voltou casada com seu genro tão jovenzinho e charmoso!
Até hoje, ninguém sabe se o genro ficou iludido pelo dinheiro ou pelos seus belos olhos... ela estava beirando os 60 anos!
Os filhos acharam que sua querida mãe já não estava com o juízo perfeito por esta atitude desavergonhada.
Ela porem estava vibrante, e cega para o mundo, virou as costas a todos os comentários maldosos, porque afinal, eles dois eram viúvos e se davam tão bem... E a netinha, pobrezinha, nada melhor que uma mamãe avó.
Os filhos, bem, esses chegaram até ir ao médico buscar uma explicação para justificar tamanho embaraço. Talvez interná-la num hospital para loucos.
Do médico escutaram, que nada tinham que lamentar, pois aquela senhora tinha muita energia e “era melhor ela ter agido assim, pois de qualquer outra maneira, seria pior para a família.”
...Isso se passou há quase 100 anos atrás!
Até hoje, um espanto, aquela senhora, minha avó...
ALICE BAROZA BROCHETTO
Nenhum comentário:
Postar um comentário